Em 1974, Franco D’Attoma, sócio de uma das maiores empresas
de roupas da Itália, assumiu o endividado Perugia. Uma de suas primeiras ações
foi a contratação do técnico Ilario Castagner, ex-atacante, que vestiu as cores
vermelho e branco na década anterior. Castagner foi o responsável pela vinda do
jovem e velocista Renato Curi, proveniente do Como, onde jogou apenas em 73-74.
Renato era um homem comum. Tinha esposa e uma filha, e além de jogador de
futebol, era formado em contabilidade, e atuava de garçom no período
inativo. O meia foi revelado no Giulianova em 69, e rapidamente ganhou
status de titular, sendo campeão da Serie D, na temporada 70-71. No Perugia,
também conseguiu rápido destaque, e foi, ao lado de Franco Vannini na meia
cancha, um dos melhores jogadores do elenco que conquistou o maior título do
clube até então, a Serie B da temporada 74-75. O título e o acesso inédito na
Serie A, foi comemorado já no novo estádio: o Perugia havia abandonado o
Estádio Municipal de Santa Giuliana e passou a mandar seus jogos no Comunale di
Pian di Massiano.
Em 16 de Maio de 1976, o ponto alto de sua carreira. Última rodada do Campeonato Italiano. Torino e Juventus tinham, respectivamente, 44 e 43 pontos. O Torino empatou em casa com o Cesena. Para a Juventus, bastava a vitória fora de casa. Mas aos 10 minutos da segunda etapa, cruzamento da direita, e Renato Curi bate de direita, de primeira, e vence o goleiro Dino Zoff, tirando o Scudetto da Vecchia Signora. O Perugia terminou aquele ano numa surpreendente 8ª colocação.
Na temporada seguinte (76-77), Curi foi mais uma vez um dos
líderes em campo, e ajudou a equipe a chegar a um honroso 6º lugar, uma posição
abaixo da zona de classificação para as competições europeias. Em 77-78, a
equipe se encontrava ainda mais forte, e já na 5ª rodada, era um dos líderes da
competição, juntamente com Milan e Juventus. Na 6ª rodada, a Juventus voltava a
aparecer na vida de Renato Curi. Desta vez, o desfecho não seria feliz para o
meio campista. Era dia 30 de Outubro de 1977. Apesar da chuva, cerca de 30 mil
torcedores estiveram presentes nas arquibancadas no Pian di Massiano. O placar
do primeiro tempo permaneceu zerado. Após a volta do intervalo, às 15:34,com
cerca de 5 minutos jogados, Renato Curi desaba em campo. Alguns jogadores da
Juventus rapidamente gesticulam pedindo ajuda. O camisa 8 deixou os gramados
pela última vez, carregado pelos maqueiros. Até o técnico Castagner adentra o
gramado, exemplificando a gravidade da situação. O duelo prosseguiu, e terminou
sem gols. Ao apito final, o anúncio: Renato Curi estava morto com apenas 24
anos. O jogador havia sofrido um infarto e chegou sem vida ao Hospital
Policlinico di Perugia.
Após a autópsia, foi constatado de que Curi possuía uma
doença crônica no coração. Logo, levantou-se a hipótese de que o jogador tinha
consciência de sua situação. Certa vez, em uma entrevista, dizia ter sido
enviado pela direção do Como, ao Centro Técnico de Coverciano, por ter
batimentos cardíacos irregulares, mas aparentemente, nada foi descoberto.
Afirmava também, por sua constante movimentação no campo de jogo e por sua
velocidade, ter um coração louco. O processo judicial movido contra o
médico do Perugia e do Centro Técnico de Coverciano se arrastou durante alguns
anos sem nenhuma punição mais severa aos réus. Durante o processo, o promotor
de justiça do caso declarou: “Quando um jogador entra em uma equipe
profisisonal, torna-se apenas um número para técnicos, médicos e diretores”. O
nome de Renato Curi foi eternizado no estádio biancorosso que foi rebatizado em
sua homenagem. E sua memória está intacta aos olhos da torcida, que o lembra
constantemente nas arquibancadas.
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Texto originalmente publicado em 5 de julho de 2014, no blog Escrevendo Futebol.
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