Quando Silvio Berlusconi se desfez do Milan em 2017, ao
vender o clube para o chinês Li Yonghong, os rossoneri já não eram mais os
mesmos. Desde 2011 em crise com seus negócios, o antigo premiê italiano passou
a fazer do Milan não mais uma extensão dos sucessos empresariais, mas um
espelho dos fracassos. Sem o mesmo poderio financeiro para fazer grandes
contratações e sem conseguir criar um projeto esportivo sólido, o clube
italiano com mais títulos europeus se via cada vez mais distante de seus
rivais, especialmente da Juventus. No meio de 2018, o clube foi novamente posto
à venda, dessa vez adquirido pela Elliott Management, um grupo de investimentos
estadunidense que reformulou por completo a direção do clube. Ainda entre os
dez clubes mais ricos do mundo e com novas perspectivas, a esperança de rever o
Milan na elite do futebol europeu reacendeu. E pela formação do elenco atual,
um futuro promissor está por vir.
Na quarta posição na atual temporada, o Milan luta por uma
vaga para retornar à Champions League, competição que os rossoneri não disputam
desde 2013/14 quando foram derrotados nas oitavas de final pelo Atlético de
Madrid, com derrota no San Siro e goleada na Espanha. O desempenho atual traz à
luz méritos de Gennaro Gattuso, histórico jogador e atual técnico da equipe. De
estilo turrão, poucos acreditavam que ele pudesse ser o homem por trás do
renascimento do Milan, ainda mais que taticamente, o ex-volante pouco mudou o
que o seu antecessor Vincent Montella já vinha fazendo, alternando a formação
entre um 352 e um 433 com meiocampistas de características mais defensivas. Aos
poucos, Gattuso foi se sentindo mais à vontade para fazer a equipe buscar ter
um posicionamento mais ofensivo, com e sem a bola, permitindo o avanço dos
laterais e preferindo a utilização de meias mais ofensivos. Ainda na primeira
metade da atual temporada, o Milan chegou a ficar oito jogos sem perder, e até
o fechamento desta matéria, o clube não havia sido derrotado na Série A em
2019, e está em uma sequência de seis jogos sem ser derrotado, em todas as
competições.
Apesar da flagrante evolução, Gattuso segue sendo visto com
desconfiança. O que faz pensar que o Milan se tornará forte em breve é a
construção de um elenco jovem e com potencial de crescimento em todas as
posições, do gol ao ataque, sem deixar de aproveitar os atletas formados em
Milanello ou se desfazer de contratações bem sucedidas das gestões anteriores.
A média do elenco, mesmo tendo jogadores rodados como Pepe Reina (36 anos),
Ignazio Abate (32 anos), Riccardo Montolivo (34 anos) e Lucas Biglia (33 anos),
é de apenas 25,4 anos, a quarta menor média do Campeonato Italiano, acima
apenas de Sassuolo, Udinese e Fiorentina. Vale ressaltar que a Serie A italiana
é a oitava liga com maior média de idade da Europa, com 27, 2 anos.
No gol, o Milan conta com Gianluigi Donnarumma, de apenas 19
anos e um dos mais promissores goleiros desta geração, que segue em seu clube
de formação apesar do assédio. Na defesa, o jogador mais experiente é o
zagueiro argentino Musacchio, de 28 anos, que faz dupla com o ex-romanista
Alessio Romagnoli (24 anos). Completam o setor, que é o quarto menos vazado da
competição, os laterais Davide Calabria (22 anos) e o selecionável suíço
Ricardo Rodriguez (26 anos). Na linha de três do meio de campo, o turco
Çalhanoglu (25 anos), que também pode jogar pela ponta-esquerda, se destaca ao
lado do marfinense Kessié (22 anos) e do espanhol Samu Castillejo (19 anos).
Caso exista a necessidade de um meio campo mais marcador, o francês Bakayoko
(19 anos) ou o mundialista uruguaio Laxalt (26 anos) são adicionados ao
esquema. Isso sem esquecer da nova opção, o brasileiro Lucas Paquetá, de 21
anos, que tem sido titular desde que chegou, na janela de transferências de
inverno. Outro atleta recém chegado, e que pode levar o Milan a outro nível é o
do atacante polonês Krysztof Piatek, de 23 anos, que estava no Genoa no
primeiro turno. Com uma média de 1 gol a cada 107 minutos, o jogador tem 17
gols na Serie A, e é o principal concorrente do português Cristiano Ronaldo, da
Juventus, pela artilharia. Somados, os dois jogadores custaram aos cofres do
Milan 70 milhões de euros. Na mesma posição de Piatek, o Milan tem o promissor
Patrick Cutrone (21 anos). Completando o ataque, Gattuso conta com a classe e a
técnica do ponta-direita espanhol Suso, principal assistente da equipe com 8
passes para gol até aqui.
Entretanto, há o contraponto. Um elenco tão jovem pode não
suportar a pressão em momentos difíceis, além do que o elenco do Milan é curto,
dando a Gattuso pouca margem para rodagem entre os titulares e reservas. A
classificação já para a próxima Liga dos Campeões se apresenta de forma
imprescindível para as aspirações da equipe, que deve vir forte na próxima
janela de transferências em busca de jogadores já prontos para transformar o
Milan em um candidato a ir longe no torneio continental, ou pelo menos, ir
retomando aos poucos a aura de bicho-papão que um dia já foi do time
rubro-negro.
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