A cada vez que o chileno Colo-Colo entra em campo, o clube
está acompanhado de David Arellano, que aparece na forma de uma enlutada
faixa retangular pouco acima do escudo que leva o cacique mapuche. Fora do
Chile, Arellano é lembrado apenas por ser um dos precursores da
"bicicleta", ou da "chilena", como é conhecida a jogada
acrobática na maior parte dos países de língua espanhola. Mas, além disso,
Arellano foi também um dos fundadores do clube que hoje é o mais vitorioso do
Chile.
De família ligada ao esporte, David Alfonso Arellano Moraga
nasceu em 29 de julho de 1902, em Santiago. No período escolar era destaque nos
jogos de futebol, e aos 17 anos, foi convidado para integrar a equipe do
Magallanes. Em 1919, estreou na Primera División, organizado pela Asociación de
Fútbol de Santiago. No ano seguinte, foi o goleador do Magallanes que levou os
títulos da Copa Félix Alegría, da Copa Alberto Downe, da Copa 12 de
Octubre e da Copa República de la Asociación de Santiago. Em 1921, estabelecido
na ponta-esquerda, voltou a vencer o título da Copa República. No ano de 1924,
foi convocado para defender a seleção chilena no Sul-Americano disputado no
Uruguai em que o Chile perdeu as três partidas contra os anfitriões, a
Argentina e o Paraguai. Em 1925, Arellano e um grupo de jogadores tiveram um
desentendimento com a diretoria do Magallanes. Esse grupo deixou a equipe
albiceleste, e decidiu criar um novo clube. Essa decisão mudaria a história do
futebol chileno, afinal, nascia ali o Colo-Colo, futura equipe mais popular do
país.
Na recém-formada agremiação, Arellano seguia marcando gols e
ajudou na conquista de dois títulos: a segunda divisão da Liga Metropolitana de
Deportes e a Copa dos Campeões de Santiago. Seu prestígio como capitão, e
também como diretor-técnico, o levaram a comandar a seleção nacional no Sul-Americano
de 1926, sediado no Chile. Ali foi o grande momento do atacante, que
marcou 7 gols e foi artilheiro máximo da competição.
Em 1927, o Colo-Colo decidiu dar um passo importante em sua
história, fazendo sua primeira grande excursão internacional, partindo
inicialmente pelas Américas e posteriormente pela Europa, entre janeiro e julho
daquele ano, sendo o primeiro clube chileno a jogar em solo europeu. Na
primeira escala no Equador, foram duas partidas, duas goleadas por 7 a 0, e 5
gols de Arellano. Em Cuba, uma vitória e uma derrota. No México, onde a equipe
ficou por dois meses, foram disputados 12 jogos, com 10 vitórias chilenas, um
empate e uma derrota. No início de abril, desembarcaram em La Coruña, na
Espanha, onde fizeram três jogos (1v. 1e, 1d), e Arellano começava a se
destacar por suas "chilenas". Depois, uma rápida passagem por
Portugal, com duas derrotas e uma vitória sobre um combinado de jogadores de
Sporting e Benfica. Na volta à Espanha, em 24 de abril, o Colo-Colo perdeu para
o Atlético de Madrid por 3 a 1. No dia 1º de maio, Arellano abriu a goleada de
6 a 2 em cima do Real Unión Deportiva (futuro Real Valadollid). O que ninguém
poderia imaginar, é que esse seria seu último gol.
No dia seguinte, Colo-Colo e Real Unión se enfrentariam
novamente e empataram por 3 a 3. Em um lance banal, durante uma disputa de bola
aérea, Arellano, então com 24 anos, acabou vendo o zagueiro David Hornia, cair
com o joelho sobre seu estômago. Mais tarde, foi constatada uma inflamação
traumática no peritônio, uma membrana que reveste parte do abdômen, e que acabou
causando sua morte na tarde do dia 3 de maio. Algo que, provavelmente, pudesse
ser facilmente revertido nos dias de hoje. Inicialmente, o corpo de Arellano
foi velado e enterrado em solo espanhol. Em 1929, seus restos mortais foram
trazidos ao Chile e deixados no Mausoléu dos Velhos Craques do Colo-Colo, em
Santiago. No Chile, chorava também uma jovem garota, de nome Berta, que havia
tido um filho com Arellano, chamado Omar Alfonso.
Com jogos já marcados, o Colo-Colo ficou na Espanha até o dia
14 de junho. Em julho, ainda fez outras três partidas no Uruguai e uma na
Argentina antes de regressar ao Chile. Dali em diante, o clube decidiu carregar
eternamente no peito a lembrança de Arellano, que viveu e, literalmente, morreu
pelo clube que ajudou a criar.
***
Texto originalmente postado em 26 de dezembro de 2015, no blog Escrevendo Futebol, e editado em 07 de maio de 2019.
Imagens: Memoria Chilena.
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