Não era apenas o nome que soava incomum. Mas Jaguaré também
era notado por sua versatilidade em campo e, principalmente, pela
personalidade. Era lendário. Nasceu no Rio de Janeiro em berço humilde, e antes
de entrar no mundo do futebol trabalhava como estivador. Até no porto, lendas
fizeram parte de sua história. Dizem que carregava sacos de farinha de trigo
de 50kg com apenas uma mão. No futebol, começou sua carreira no Vasco em 28,
após ser levado por Espanhol, um defensor que o viu em peladas no bairro da
Saúde, onde era conhecido pelo apelido de Dengoso. Algumas fontes dizem que
Jaguaré também jogou pelo Atlético Santista e pelo Pereira Passos (equipes
amadoras). Sem saber ler nem escrever, foi preciso contratar um professor para
lhe ensinar a assinar o próprio nome nas súmulas, algo até comum na época.
Rapidamente se tornou um dos ídolos da torcida cruz-maltina, também graças à
sua irreverência. Era tão misterioso que nem a data de seu aniversário é
conhecida. Fontes apontam os dias 14 de maio e 14 de junho, além de divergirem
também no ano de nascimento, indicando 1900 ou 1905. Mas é certo que Jaguaré
nem ligava para isso. As histórias contadas a seguir, são verdadeiras, até que
se prove o contrário!
Jaguaré, sempre com seu gorrinho de marinheiro, tinha o
costume de irritar os adversários. Certa vez, em um Vasco e Bangu, o goleiro
prometeu a Ladislau, jogador alvirrubro e irmão de Domingos da Guia, que o iria
driblar. Já no primeiro lance envolvendo os dois, Jaguaré deu apenas um tapinha
na bola por cima do atacante, que ao tentar impedir a jogada, tomou outro
chapéu. Após as defesas, tinha o hábito de girar a bola sobre o dedo, como se
fosse um jogador de basquete. Além de atirar a bola na cabeça do adversário e
pegá-la novamente no "rebote".
Em um amistoso entre as seleções paulista e carioca, Jaguaré
desafiou o lateral-direito Grané, ídolo do Corinthians, a bater um pênalti
contra ele. O jogador era conhecido pelo chute potente. Após a cobrança de Grané,
e a consequente defesa, prevalece a ousadia do goleiro que se gabava como um
verdadeiro Globetrotter. Em outra situação, o Vasco vencia o São Cristóvão por
5 a 0. O atacante do pequeno clube carioca invadiu a área e chutou. Jaguaré
defendeu e devolveu a bola a Vicente: "Vamos, chuta de novo!". Na
segunda oportunidade, Vicente balançou as redes.
Pelo Vasco, foi campeão carioca em 1929, e após uma excursão
pela Europa em 1931, em que o clube venceu 8 de 12 jogos disputados, Jaguaré
assinou com o Barcelona, junto do também jogador vascaíno Fausto dos Santos.
Atuou por um tempo pela equipe catalã e depois retornou ao Brasil para jogar
pelo Corinthians (34-35). Voltou a jogar no Velho Continente, pelo Sporting de
Lisboa na temporada 35-36, sendo campeão do Campeonato de Lisboa. Foi o
primeiro brasileiro a vestir a camisa leonina, com 7 partidas e 4 gols sofridos.
A intenção inicial era ir para a Itália, mas a guerra entre Itália e Abissínia o impediu.
Em 1936, chegou ao Olympique de Marseille, onde alcançou seu maior destaque. No lugar de Bezerra, o sobrenome foi substituído por Besveconne. Foi campeão francês em 37 (o primeiro dos 9 títulos nacionais do clube) e da Copa da França em 38. Nesta mesma temporada, marcou de pênalti um gol no empate em 1 a 1 diante do Séte, em 1º de maio de 1938, mais uma vez se mostrando pioneiro em sua posição. Na mesma partida, ainda defendeu outras duas penalidades. Um espanto! Recebeu o apelido de Jaguar, por suas estripulias. Pelo clube francês, sofreu 70 gols em 69 partidas. Outra lenda muito difundida dá conta de que o gol do título da Copa da França, na vitória por 2 a 1 sobre o Metz, teria sido marcado por Jaguaré. Entretanto, o fato é desmentido por inúmeras fontes. Porém, na Europa, suas molecagens não eram tão bem aceitas. Foi duramente repreendido pela direção do Olympique ao realizar uma defesa elástica, fazendo um movimento parecido com o de uma bicicleta. Em outra oportunidade, fez com um francês o mesmo que havia feito com Alfredinho, e foi advertido pelo juiz, o ameaçando de expulsão.
Em 1936, chegou ao Olympique de Marseille, onde alcançou seu maior destaque. No lugar de Bezerra, o sobrenome foi substituído por Besveconne. Foi campeão francês em 37 (o primeiro dos 9 títulos nacionais do clube) e da Copa da França em 38. Nesta mesma temporada, marcou de pênalti um gol no empate em 1 a 1 diante do Séte, em 1º de maio de 1938, mais uma vez se mostrando pioneiro em sua posição. Na mesma partida, ainda defendeu outras duas penalidades. Um espanto! Recebeu o apelido de Jaguar, por suas estripulias. Pelo clube francês, sofreu 70 gols em 69 partidas. Outra lenda muito difundida dá conta de que o gol do título da Copa da França, na vitória por 2 a 1 sobre o Metz, teria sido marcado por Jaguaré. Entretanto, o fato é desmentido por inúmeras fontes. Porém, na Europa, suas molecagens não eram tão bem aceitas. Foi duramente repreendido pela direção do Olympique ao realizar uma defesa elástica, fazendo um movimento parecido com o de uma bicicleta. Em outra oportunidade, fez com um francês o mesmo que havia feito com Alfredinho, e foi advertido pelo juiz, o ameaçando de expulsão.
Outro fato importante de sua vida, é que Jaguaré teria sido o
precursor do uso de luvas de goleiro no Brasil, após o seu primeiro retorno ao
país. Pela Seleção, jogou em 3 partidas entre 1928 e 1929, e sofreu 5 gols. Boêmio
e alcoólatra, gastava tudo o que ganhava, e voltou para o Brasil, com medo da
guerra, com os bolsos vazios. Antes disso, ainda atuou 9 vezes pelo Académico
do Porto em 1939. No Brasil, ainda tentou jogar pelo São Cristóvão, mas seu
período no clube durou pouco. Voltou a ser estivador e era motivo de chacota
dos colegas, que não acreditavam nele quando contava suas histórias da época de
jogador. Mudou-se para Santo Anastácio, interior de São Paulo. Só foi aparecer
novamente em 27 de outubro de 1946, quando faleceu. Até em sua morte, há
divergências históricas. Fontes afirmam que Jaguaré havia se envolvido em uma
briga, e foi espancado até a morte por policiais. Outra versão conta que após
ser preso, bateu a cabeça na parede. Foi transferido para o Manicômio
Judiciário de Franco da Rocha (mais conhecido como Juquery), sendo
hospitalizado e falecendo pouco depois. Há ainda, uma terceira versão que diz
que Jaguaré foi esfaqueado. Independente da história verdadeira, terminou de
forma melancólica a vida de um dos precursores dos futuros
goleiros-artilheiros, como Jorge Campos, René Higuita, Chilavert e Rogério
Ceni.
***
Texto publicado
originalmente em 26 de março de 2015 e editado em 18 de setembro de 2019.
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